RisosTodos os dias é a mesma coisa: chego de manhã, ligo o computador, leio rapidamente algumas notícias, e-mails, e então os risos começam. Não os meus, mas os deles, os colegas que trabalham na sala ao lado.
Por que será que riem tanto, eu me pergunto. De alguma piada, da roupa extravagante do colega, de algum acontecido, por que será?
Algumas vezes isso me causa profunda ira. Eles riem o tempo todo! São risos irritantes, exagerados, sem nenhum pudor.
Como posso raciocinar com essa gritaria? Os risos entram nas minhas artérias, e meu sangue corre rápido. Nesses momentos, penso em ir até lá e estragar a festa, com dedo em riste.
Mas me contenho.
Passo dias inteiros ouvindo esses risos a roer-me a alma e meu cérebro, e roubando de mim a inteligência, a paciência, a seriedade e a concentração.
Eles pensam que estão aonde? No boteco da esquina?
Mas nem sempre é assim. Todas as manhãs quando chego, ligo o computador, leio rapidamente algumas notícias, e-mails, e então ouço o canto dos passarinhos na minha janela. E me pergunto: são passarinhos, ou meus colegas na sala ao lado? Que riem despudoradamente, como a querer dizer-me: ria você também, que a única coisa que podemos fazer na vida é rir, e nada mais!
E então descubro que o riso dos meus colegas e o canto dos passarinhos quando se misturam, fazem a alegria das minhas manhãs e dos meus dias.
Descoberta tola essa, e que rouba de mim um sorriso. Mas a vontade que tenho, mesmo, é de rir despudoramente, como eles, os meus colegas de trabalho.
Mas me contenho.